Ao iniciar estas linhas veio-me à memória um texto da
mitologia grega quando foram entregues a Hércules cinco missões desafiadoras. Uma
delas - a mais significativa - foi a de limpar os estábulos do rei Augias.
Missão nada agradável, quase um castigo, um teste à sua lealdade a princípios
de extirpar a sujeira impregnada no ambiente real. Hércules cumpriu a ordem.
Mutatis mutandis.
Mudando de hora, ambiente e costumes, esta será uma das mais difíceis missões
do nosso futuro presidente. As eleições de primeiro turno sinalizaram
categoricamente que a população brasileira não está comprometida com as ações
do lulo-petismo, desgastado pelo mofo que ocorre nos porões palacianos e que se
tornou uma indignação nacional. Só os comprometidos com as benesses do poder o
exaltam, mas o poço de suas vaidades está para secar.
No próximo dia 26, teremos a chance de iniciar um novo tempo
no Brasil, com a escolha de quem representa outras estratégias de ação
governamental. A escolha principalmente daquele que vai promover o fim do
aparelhamento do Estado e o real combate à corrupção. Aquele que pode retirar
da política esse cheiro de azedo, de sujeira mal lavada ou escondida debaixo do
tapete. O Brasil precisa de mudança verdadeira, de investimento em áreas
fundamentais que impulsione o nosso desenvolvimento e promova a justiça social.
Uma
coisa me preocupa, porém. Ao analisar a opção do eleitorado, causou-me espécie
o número expressivo de abstenções (19,39%) e de votos brancos e nulos (cerca de
9,64%). O montante de quase 39 milhões de pessoas demonstra que a mensagem
política não está chegando ao coração desses brasileiros. Mais ainda, especialistas
analisam que parte dessas pessoas participou dos protestos de junho do ano
passado. Gente que não se sente representada por ninguém e que até refuga essa
representação. Ocorre, no entanto, que vivemos em uma democracia representativa
e até hoje não surgiu ainda outra forma melhor de se governar respeitando os
desejos heterogêneos de qualquer Nação.
Entendo
que os partidos políticos, além da postulação de seu programa de governo,
deveriam juntar-se à conclamação do Superior Tribunal Eleitoral para que o
cidadão, tendo condições de votar, o faça e não fique em sua casa, não
permaneça indiferente porque a sua omissão a este ato cívico poderá
constituir-se num dano ao país e até em arrependimento pessoal.
Eu
sempre me emociono diante da urna. Tenho esse sentimento desde a década de 50,
quando comecei a votar. Claro que naquela época havia uma áurea muito mais
formal ao ato. Os homens iam até terno numa reverência ao processo democrático.
Era uma demonstração de respeito. Hoje está tudo muito diferente... Mesmo
assim, aos 83 anos, não sou mais obrigado a votar, mas desse direito não abro
mão de forma alguma.
Não creio que esses quase 30% de brasileiros que se
abstiveram de escolher os futuros dirigentes do país ou de seus Estados o
tenham feito apenas por indiferença ou manifestação de repúdio ao processo. Alguns
também por causa dessa lei eleitoral draconiana que impede, por exemplo, o voto
em trânsito para todos os cargos eletivos. Por isso apresentei um projeto de
lei para que aqueles que estejam fora do seu domicílio eleitoral no dia do
pleito possam exercer o legítimo direito que a Constituição lhes consagra em
relação a todos os cargos eletivos.
Minha
proposta já foi aprovada pelo Senado e está em discussão na Câmara dos
Deputados. Espero que o PLS 130/2013 garanta o voto em trânsito desde o
presidente da República ao vereador já nas próximas eleições.
*Ruben Figueiró é senador da
República pelo PSDB-MS
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