Inicio do ano – justamente no seu primeiro
dia, seis horas da manhã, tilinta o telefone. Ainda sob os rescaldos de uma
noite festiva, atendo:
- Quem...?!
- “É o Pompilho, mas bah! Tche! Estas com
jeito de cavalo aguachado...”
Dei- me de João-sem-braço.
- O que manda o caro amigo - e ele começou a
desembuchar:
- “Recebi seu despacho pelo meu piá, o
Venâncio.
Também tenho curiosidade de conhecer pessoalmente a senadora Ana
Amélia, lá do meu Rio Grande. Vejo-a sempre pela TV Senado, guapa, inteligente,
culta, de fala macia, firme e cutilante. Costuma dar umas guachadas no lombo de
muito riuno treteiro e não dá trela para o malfeito. Não muito querenciado nos
tais problemas nacionais e do mundo, para mim a senadora tem deles me
esclarecido muito, pena que a presidente – veja bem que essa morou como
agregada no Rio Grande – não a tem ouvido. Estou abombado com essa viagem da
presidente à Cuba para dar aos Castros o que ela nega os brasileiros. Isso vai
ficar marcado na anca dela...Bueno, Ana Amélia é uma autêntica gaúcha, as vezes
bombeando as coisas, chego a pensar que ela vem de uma linhagem cunhada nas
lutas duras dos pampas e das campanhas e lembra a personagem Ana Terra, símbolo
da tempera aguerrida da mulher gaúcha. Está sempre aperada de argumentos que
expõe da tribuna e nos palanques com guampadas que ferem fundo o adversário”.
E, sem perder o folego, continuou:
- “Confesso, Figueiró, se minha idade
permitisse transferiria meu título eleitoral para Tupanciretã, minha querência
nativa, para marcar meu voto na Ana Amélia para governadora. Me disseram que
ela será candidata. Isto faria para dar uns prachaços naquele povinho que
malsina o Rio Grande. Mas vou cabalar daqui meus parentes, deles eu sei que
campeada será farta para ela. Tu sabes que não sou tambeiro, quando estou
entusiasmado por uma causa, meu coração corcoveia , esporeio o meu pingo
tubiano e com o sombreiro saúdo os amigos e nos maulas e gaudérios dou-lhes meu
desprezo.”
Por instantes, parou de “discursar”, pensei,
freou seu tubiano...Eis que retoma com fôlego:
- “Estas me ouvindo?”
Não ouviu minha resposta, e esporeou o pingo:
- “Podes dizer à senadora Ana Amélia, que sou
do Rio Grande, velho porém ainda atrevido, não refugo a luta, corro na ponta da
tropa, lanço a mão num pialo certeiro o bagual vasqueiro. Na hora do pega sou
gaúcho da fronteira e da campanha, sei laçar e manear qualquer touro marrudo. Estou
com a senadora, já de rebenque erguido para riscar do Rio Grande um governo
escangalhado.”
Não consegui guardar tudo o que saiu, como
corrente caudalosa, da garganta gauchesca do meu amigo Pompilho. Sei, porém,
que na sua idade já vetusta, embora de espirito juvenil, jamais abandonou a
cancha das ideias de um maragato temperado nas peleias de seu Rio Grande.
*Ruben Figueiró é Senador pelo PSDB-MS
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