Nem
esta, nem aquela – na minha avaliação. 1964, após meio século, ainda continua
sendo espetáculo que anima discórdias. Sou um dos que, como milhões de
brasileiros, estavam na plateia assistindo com natural aflição o embate entre
os atores, mas embasados nas ideias das reformas de base que levariam a um
abalo nas estruturas econômicas e sociais então vigentes; outras, com teses
díspares, a máxima delas na defesa da preservação da Carta Magna de 1946.
O
embate se acalorava com provocações de lado a lado, até que o presidente João
Goulart (que não era comunista, nem esquerdista e sim um rico estancieiro nos
Pampas e no Centro-Oeste) engolfou-se na lábia de seus assessores próximos e
permitiu nítidas manifestações de estímulo à desordem, como o Comício da Central
do Brasil e a reunião com os sargentos, ambos na Cidade Maravilhosa. O outro
lado agitava-se por meio do Movimento em Defesa da Família, com Deus e pela
Liberdade, posicionando-se em defender princípios inarredáveis da cultura nacional,
em atos públicos de milhares de pessoas.
A
plateia manifestou-se como num vulcão com lavras incandescentes espraiando-se
para a direita e a esquerda em caudais que precisavam ser contidos. Até aí não
havia presença de ações militares, estes aguardavam – como ouvi na ocasião de
um militar de alta patente – que esperavam a “fruta madurar” para definirem-se.
Aconteceu o 31 de março. Foi uma decisão civil, apoiada após pela facção
majoritária ou de conveniência no seio das Forças Armadas.
Não foi um
Golpe. Com arranhões, sim. A Constituição de 1946 foi preservada em seus
pilares fundamentais. Não foi uma Revolução, porque as estruturas das
instituições constitucionais foram mantidas.
Golpe, sim,
começou a acontecer com o Ato Institucional número II. Primeiro porque extinguiu
os partidos políticos tradicionais; segundo porque cancelou as eleições diretas
para a Presidência da República. Aí veio o caos, os dias de chumbo que
perduraram até surgir um clarão no horizonte em 1980.
*Ruben Figueiró é
senador pelo PSDB-MS
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