Ele foi adentrando na sala
de reuniões com aquele seu jeitão espalhafatoso de seus bons tempos na domação
de pingos e burros chucros. Parodiando o capitão Rodrigo Cambará (personagem em
o Tempo e o Vento de Erico Verissimo) foi logo alardeando: “Buenas muchachos!
Dos que são do contra e magros eu dou de prancha e aos gordos dou de talho!”,
levantando o rebenque que trazia às mãos, tão companheiro quando seu cusco “
brioso”. E soltou uma gargalhada galhofeira. Era o velho Pompilho dos Santos
Reis, o qual aforante eu, poucos o conheciam, sendo então recebido com olhares
atônitos pelos demais presentes.
Considerando-o abelhudo e
atrevido de início, logo o ambiente desanuviou-se pela simpatia e
espontaneidade do taura gaúcho. Tomando da palavra, apresentou-se: “sou gaúcho
de Tupanciretã, dos pampas do Rio Grande, gaudério e torado no grosso, não tive
escola, na realidade sou ‘guasca’, uma cruza de estancieiro gaúcho com uma
índia kaigangue, buenacho, curtido pelas peleias entre chimangos e maragatos –
fui um destes”.
“Encagaçado pelo medo de
morrer (os chimangos ameaçaram-me cortar a cabeça, como era corrente para os
derrotados) e assim, fugi para as bandas de Mato Grosso, quereciando-me nos
campos sem fim da Vacaria (entre Rios, hoje Rio Brilhante), nas veredas do rio
Santa Maria (em Ponta Porã) e depois nos campos serrotes das nascentes do
rio Brilhante, na região de Maracaju. O ar daqui me fez feliz, são sessenta
anos e pico ou mais neste pagos benditos. Considero-me ‘matucho’,
entonces: meio gaúcho, meio sul-mato-grossense – egaletê, chiru velho!”
“Apresentei-me bugrada!
Agora, falo de politica, ‘con permiso’ de vocês! Gosto dela tanto quando
das lembranças das chinocas de antigas andanças boêmias, como do chimarrão,
este amigo constante nos momentos de prazer e de nostalgia.”
E lá se foi o Pompilho
campo afora em sua análise de cronista calejado pelas refregas em vitórias e
derrotas de antanho.
“A temporada das
carreiradas eleitorais começaram desde domingo. Desde o Rio Grande, me apego à
elas, seja nas canchas de duas quadras e meia para governo do Estado, ou para
presidência nas de tiro mais longo para os parelheiros de folego largo.”
Para mim, disse Pompilho,
“da potrancada bem fornida e de pelo fino e liso, três se destacam em
cada cancha. Na de tiro longo, estão no partidor, mascando freio, indóceis, o
da presidente, do Aécio, e do Eduardo. Pareo duro para os enfrenados. Ganhará o
de melhor ‘guaino’ creio, porque mais robusto nas ideias, firmeza de
compromissos comprovados pelo passado sempre exitoso na gestão do que lhe
compete dirigir, outro senão o Aécio terá ampla vantagem no corpo a corpo com
os demais, mais músculo tem mais folego.”
“Na cancha de duas
quadras, nada obstante as reconhecidas qualidades, tão naturais nos outros dois
‘guainos’, é nítido o perfil do Reinaldo, porque descompromissado com as
‘reinações’ do presente, pois representa a pureza do desejo de mudanças, de um
tempo novo que se antepõe ao que aí está ‘já pesteado’. É o que se ouve desde o
Apa, no oeste ao Aporé, no leste; do Paranazão, no sul ao Piquiri/Correntes ao
norte de nosso Estado!”
Continuou o Pompilho, “mas
bah, tchê! Te cala chirú velho! Perdoem-me, nesta vida já peleei, carchuei por
veredas, serras e campos, carreguei tranqueiras, corquilhei à beira de
olhos-da-água como sapo, enfrentei barras macanudas, como estas que nosso País
está enfrentando, dei rédeas ao pingo rosilho, gastei mesmo com a guaica vazia,
vi assombração na cruz solita dos ermos, usei laço curto para chinchar touro
bagual, venci ventos araganos e com esta ‘otoridade’ de couro curtido,
posso dizer-lhes: apontem suas garruchas (o voto) para impedir que o crinudo
gambá não engorde mais no galinheiro da República.”
Depois dessa exortação, o
Pompilho, convidou-nos para um “amargo” em sua querência, declamou uma trova
que se recorda lá do Rio Grande, para reflexão nossa:
“Oh! Governo esculhanbado
Foi logo o que pensei
Quando do susto sarei
No rancho do meu amigo
Saracura,
A coisa está cabeluda...
Já nem bombacha se muda.
A crise é tão macanuda.
Só com o Aécio e Reinaldo
terá cura.”
Saudando com o seu largo
sombreiro, com rebenque em punho, o “cusco” companheiro, lá se foi o Pompilho,
“o santo guasca.”
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