Contaram-me que, certa vez, cavalgando pelos campos da Vacaria, patrão e
empregado chegaram à sede de uma fazenda vizinha. O patrão, metido a exímio
caçador, brasonou-se aos vizinhos de que acabara de atirar, certeiramente, nas
duas patas dianteiras de um veado, quando este passara à sua frente, em alta
velocidade. Sob a expressão atônita dos presentes, invocou o testemunho do
empregado, que confirmou a bazófia: “é isso mesmo, patron!”. Mais tarde, voltando
os dois a trotear, o empregado virou-se para o patrão: “senhor, da próxima vez veja
se o senhor minta menos ‘desparrado’, pois aquela (mentira) foi difícil de
‘juntar’” (confirmar).
Lembrei-me dessa estória diante da escandalosa mentira do governo e o
mito que o PT sustenta.
O Mito: O PT tirou 36 milhões de
brasileiros da pobreza nos últimos 12 anos. Ou melhor: o Brasil superou o
processo crônico de desigualdades sociais.
Como se sabe,
estes não são mitos triviais. Trata-se de um dos carros-chefes da campanha da candidata/presidente.
Acontece que, na semana passada, o Tribunal de Contas da União aprovou a
auditoria nos programas de Assistência Social do governo, o qual simplesmente
desconstrói esse mito. Daí a mentira.
A verdade é outra. O governo Dilma considera miseráveis aqueles que têm a renda per
capita abaixo de R$ 77 ou US$ 1,25 por dia, conforme propõe o Banco Mundial, e
pobre os com rendimento mensal entre R$ 77 e R$ 154.
O problema é
que o Banco Mundial define que esse valor deve ser atualizado pelo poder de
paridade de compra de cada país. No Brasil, essa atualização não ocorreu entre
2009 e 2014, fazendo com que no período, “a linha de pobreza oficial se
deslocasse do seu significado científico e útil para uso em indicadores de
desempenho", de acordo com as palavras do relatório. Ou seja: o governo
Dilma maquiou números para encobrir a realidade.
Ainda segundo
o Tribunal de Contas União, um cálculo aproximado com base na inflação
brasileira conclui que estavam na linha de extrema pobreza e pobreza as pessoas
com renda entre R$ 100 e R$ 200, em 2013, portanto valores acima dos
estipulados no Decreto 8.232/2014, de 26/06, quando o valor passou de R$ 70
para R$ 77.
Não precisa
ser grande matemático para perceber que os dados do governo fantasiam nosso
drama social. Por isso, muitos dizem que adorariam morar na propaganda do PT.
Para o TCU,
órgão de fiscalização auxiliar do Legislativo, os indicadores relativos ao
alívio da pobreza estão distorcidos. Pior, representam o risco de o governo
estar considerando que um número maior do que o real de pessoas teria superado
a pobreza.
Não é fácil
desconstruir um mito. Principalmente quando trata de uma das principais bandeiras
do governo. Minha assessoria fez uma análise minuciosa no voto do ministro
Augusto Sherman e posso concluir que é totalmente infundada a crítica do
Ministério do Desenvolvimento Social às conclusões do TCU.
Como não
tinha muito que dizer, o Ministério do Desenvolvimento Social, agressivamente
atribuiu aos auditores do TCU ignorância sobre critérios internacionais de
mensuração da pobreza e desconhecimento da legislação e ainda disse estranhar o
que chamou de posicionamento político do Tribunal.
Isso me faz
lembrar aquele episódio da mitologia greco-romana, quando Júpiter, irado e
contrariado, foi advertido por outro Deus: “Se tu te irritas, logo não tens
razão”.
O fato é que
quando não se tem razão a saída é o grito. E o governo está esperneando. No
entanto, contra números concretos não adiante fazer birra.
Entendo que
não há muito que ser questionado. Lamento esse costume petista horrível de
deturpar a realidade a seu favor. Sorte é que temos pessoas e instituições de
credibilidade com olhos bem abertos. Os brasileiros sentem na pele a inflação
em alta, os juros estratosféricos, a falta de investimentos e a carga
tributária elevada, contrastando com a crise na saúde, educação e segurança
pública.
O dia da
mudança está chegado. Aí veremos se o Governo conseguiu ou não manter em pé os
mitos e fantasias que construiu.
* Senador da
República, Presidente de honra do PSDB-MS
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