Causa-me perplexidade
a falta de visão de futuro do governo federal. Estamos correndo riscos de
perder uma vantagem energética em decorrências de políticas de curto prazo.
Explico:
Estudos mostram que o
etanol brasileiro poderá ser o combustível do futuro. Em 2009, a Agência
Ambiental dos Estados Unidos divulgou parecer comprovando que o uso do etanol
de cana como substituto de gasolina permitiria uma redução de 44% nas emissões
de gases estufa. Com milho, cairia apenas para 16%.
Mesmo assim, o
governo brasileiro decidiu importar milhões de litros de álcool anidro
(subproduto do milho) dos Estados Unidos e para estimular ainda mais a
importação dessa comoditie, desonerou de impostos (PIS e Cofins) as compras de
etanol do exterior.
A minha estranheza
vem do fato de o setor sucroalcooleiro movimentar aproximadamente 2% do PIB
nacional e 12% do PIB da agricultura no Brasil, empregar cerca de 4,5 milhões
trabalhadores, e, mesmo assim, com números superlativos, o setor viver
problemas permanentes.
O Brasil criou o
Proálcool há mais de 40 anos e até hoje não estabeleceu uma política
consolidada que fosse pautada pelo planejamento estratégico eficiente.
Cerca de 60% dos
veículos brasileiros são flex. Em 2020 eles serão quase 90%. Está claro que se
houver bons preços na bomba os consumidores poderão passar a optar pelo etanol,
mas isso será difícil de acontecer por causa da política errática do governo
que está atado à camisa-de-força do uso de combustíveis fósseis altamente
poluidores. E assim estamos negligenciando o fortalecimento de uma matriz
energética ambientalmente vantajosa.
Para que o nosso
etanol que vem da cana-de-açúcar seja realmente o combustível do futuro
teríamos de desenvolver políticas bem formuladas de fortalecimento do setor.
Caso contrário, a importação do etanol americano derivado do milho poderá se
consolidar e dominar paulatinamente o mercado.
O produtor vê o preço
de seu produto esmagado, perdendo competitividade, fazendo-o optar pela
produção cada vez maior de açúcar por causas dos preços internacionais. Assim,
promove uma brutal redução na oferta, fazendo com que os custos aumentem,
desestimulando a produção, gerando uma cadeia de prejuízo às usinas, que são
obrigadas a fechar ou se endividarem estratosfericamente.
O projeto de criar
uma matriz energética de biocombustíveis vai deixando de ser prioritário à
medida que o governo decidiu apostar suas fichas nas descobertas de petróleo do
pré-sal, deixando assim o etanol em segundo plano. Esse é um grande erro.
*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS
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