Um
dos personagens civis que mais influenciaram os rumos da história brasileira
entre 1945 e 1968 completaria 100 anos, se vivo estivesse. Carlos Lacerda
nasceu em 30 de abril de 1914 no Rio de Janeiro. Faleceu em 1977. Hoje,
passados tantos anos e com visão mais ampliada dos fatos históricos, percebo
com clareza, concordando com o cientista político Melchiades Cunha Júnior que
Lacerda “se inscreveria, ainda que não sem controvérsia (como tudo nele) no
panteão dos brasileiros, que sendo os mais capacitados de sua época, não
chegaram a presidente: Rui Barbosa, Oswaldo Aranha, San Tiago Dantas, Tancredo
Neves e Ulysses Guimarães”. Resta-nos cultuar suas memórias. Ficaram seus
exemplos. Para mim, determinados homens estão fazendo falta nesse país.
Era
impossível ser indiferente a Carlos Lacerda. Era de uma inteligência que se
exprimia como um raio. Empolgava a todos e fez uma legião de fãs que admiravam
suas atitudes tempestuosas marcadas pelo verbo impiedoso com que fustigava os
adversários. Ele despertou o ódio e a admiração de milhões de brasileiros entre
as décadas de 40 e 70 do século passado. Os adversários chamavam-no de
direitista, fascista. Ele foi inicialmente comunista, depois anticomunista e
virou líder da direita. Mas não se pode classificá-lo de fascista ou
reacionário.
Na
Câmara, Carlos Lacerda se destacava por ser um parlamentar brilhante, culto,
cáustico nas críticas aos adversários. Carbonário quando se tratava de mal
feitos do governo. Considerado um dos maiores tribunos do Parlamento. Eu ia
sempre assistir as sessões e, jovem ainda, me empolgava com as orações de
Lacerda.
Fui
seu admirador. Algumas vezes, ainda na mocidade, dele divergi, já encanecido
nas lutas, cheguei a condenar suas atitudes. Lacerda demonstrou no curso do
tempo ser um “demolidor de presidentes”. Abjurando o comunismo, com teses que
poderiam ser entendidas como golpista de direita, tanto contra Getúlio, em 1945
e 50; contra JK, em 55; Jânio, em 61; Jango, em 64. Mas Carlos Lacerda também
provou armas diferentes. O que ele desejava realmente era o estabelecimento de
uma ordem democrática estável. Foi quando, surpreendentemente, procurou JK na
Europa, e Jango no Uruguai, para organizarem a Frente Ampla, movimento para
restabelecer a democracia no Brasil e que teve vida efêmera, por ação
discricionária do regime militar.
Conheci
Carlos Lacerda em 1953. Eu, estudante no Rio de Janeiro, ele, jornalista fogoso
e diretor da Tribuna da Imprensa – excitando a oposição a Getúlio Vargas, então
presidente da República. Eu tive com outros universitários a oportunidade de
manter rápidos encontros com Carlos Lacerda, que estimulava-nos a participar da
vida pública.
Carlos
Lacerda procurou o poder, não serviu-se dele, lutou sim, a seu modo destemido
pela sua coragem pessoal e verbo vulcânico, injusto com alguns, mas jamais
sabujo de muitos que tinham o poder. Como afirmara: “O poder não é um cargo de
sacrifício. Ao contrário, é uma fonte maravilhosa de alegria”.
Saudar
a memória de Carlos Frederico Werneck de Lacerda é saudar a memória de todos
aqueles que tombaram no campo democrático para que hoje se pudesse dizer ufano:
o Brasil é um país voltado para o futuro, com expectativas de ser exemplo para
o mundo.
*Ruben
Figueiró é senador pelo PSDB-MS
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