No decorrer das décadas de oitenta e noventa
do século passado, nós aprovamos a iniciativa dos presidentes Sarney, do
Brasil, e Alfonsin, da Argentina, quando arquitetaram uma aliança de livre
comércio entre as nações sul-americanas. Daí surgiu o Mercosul saudado com
fogos de artifício e explosões estridentes de esperanças. Teríamos uma espécie
idêntica ao do Mercado Comum Europeu, onde as riquezas existentes se
transformariam em passo de realizações num potentado econômico.
A euforia era tanta que se tomou por
pressuposto desprezar a poderosa nação norte-americana, a qual à mesma época
pregava reunir a comunidade das três Américas – a do Norte, a Central e a
sulina – sob o pálio de uma nova Doutrina Monroe, agora econômica, a Alca.
Assim, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai
coexistiram de braços dados por bons anos com frutos apetitosos para todos os
sócios. No entanto, a bonança econômica, como soe ser nessa área de tantas
sutilezas, como a comercial, foi perdendo forças, dando vazamento de energias
aqui e acolá. Logo surgiu entre os quatro parceiros a cizânia inicial, não por
razões de trato econômico, preocupantes, sem dúvida, mas superáveis porque aí
presente a iniciativa privada, mas porque os homens de Estado começaram a
inocular no sangue do Mercosul o vírus de pensamento político estranho aos
objetivos maiores do pacto econômico.
No Brasil, o então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva iniciou um trabalho bem urdido embasado no Fórum de São Paulo de
expansão política das esquerdas, com base no princípio da solidariedade
continental, na condição de padrinho da ideia. O presidente à época Néstor
Kirchner, da Argentina, a ele se associou, porém com ideias hegemônicas, ao
estilo de um peronismo ultrapassado. Tal política atingiu fundo das relações
econômicas entre os parceiros com flagrante marginalização do Uruguai e do
Paraguai entre os dois titãs ensimesmados.
Focalizando motivações econômicas a
Argentina, já no governo da presidente Cristina Kirchner, vem acicando o governo
brasileiro com medidas restritivas às exportações brasileiras, este tem reagido
timidamente para irritação do setor exportador nacional e sob o pasmo da
sociedade brasileira a covardia de sua diplomacia. Hoje, o que se vê é a
submissão do governo brasileiro aos caprichos do Kircherismo dos pampas
argentinos.
É evidente que as peias que nos prendem a
esse tratado perderam a solidez, os fios fortes e ajustados do passado,
perderam consistência, estão rotas. Penso que o Uruguai já tem um razoável
ranço com a Argentina; penso que o Paraguai, com o passa-moleque que levou sob
a liderança da Argentina quando foi suspenso do Mercosul, não vê sentido em sua
permanência no pacto. A presença da Venezuela com seu recente debut com
sua frágil economia já constitui preocupação principal para o Brasil, face aos
recentes calotes financeiros que dela vem levando.
Enfim, está passando da hora de o Brasil
abrir suas fronteiras para outras bandas comerciais como aquela que nos acena a
comunidade econômica europeia e partir para o delenda Mercosul.
*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS
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