Desde
muito jovem as leituras sobre as conquistas das terras mediterrâneas do oriente
sul-americano pelos espanhóis e pelos portugueses chamavam-me a atenção. Os
espanhóis vencendo as águas que desciam de longínquas cabeceiras: do rio
Amazonas, do rio da Prata, este fruto da conjunção aquífera das do rio
Paraguai, Paraná e Uruguai. Dos portugueses adentrando a partir do rio Tietê
para buscar o ouro aluvional nos rios Coxipó e Cuiabá no então distante Mato
Grosso. Gestos aventureiros até hoje relembrados não só pelas distâncias
cruzadas por águas tenebrosas e terrenos inóspitos, ora firmes, ora pantanosos,
e sob o risco, o mais das vezes, de uma traiçoeira fauna, quando não de
indígenas que num ato de defesa não aceitavam a presença de um estranho ser
humano. Foram todos vencedores e têm seus nomes imortalizados pela coragem,
perseverança, uns pela ambição e outros tantos por idealismo.
Gestos tais têm no curso do tempo se constituído estímulo
acicatante para gerações e gerações que àquelas se seguiram. Nós brasileiros,
não somos diferentes. Lembro-me agora, de uma expressão que ao lê-la
impressionei-me. Veio do saudoso senador André Franco Montoro: “Em política
quando sonhamos sozinhos, é apenas um sonho. Quando sonhamos juntos, é o começo
de uma realidade”. Tenho para mim que ela justifica o porquê desejamos dar
sequência ao bandeirantismo de nossos antepassados. Hoje não para a conquista
de outras terras, do ouro, da prata ou de pedras preciosas, mas para abrir
caminhos que possibilitem além da integração fraternal de sul-americanos, que
nossos propósitos econômicos possam ganhar vitalidade junto ao atraente mercado
consumidor do Oriente à outra margem do imenso Oceano Pacífico.
Hoje pensamos que isso pode ocorrer por vias bioceânicas
que se abram a partir dos Estados do Acre, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul. Nós também, Mato Grosso do Sul, pretendemos a partir de
Corumbá, adentrando a Bolívia, atingir o Oceano Pacífico.
Agora se ergue forte de sólidas intenções uma rota
bioceânica Atlântico-Pacífico que da região sul-leste, usando territórios
paulista e sul-mato-grossense até o sudoeste, Porto Murtinho nas barrancas do
Rio Paraguai. Daí pelas terras paraguaias, da Argentina, cruzando os Andes,
alcance o Porto da
Cidade de Iquique, na República do Chile. Daí a consagração de uma justa aspiração pela conquista do notável mercado chinês e asiático, encurtando distâncias terrestres e marítmas em mais de oito mil quilômetros, com significativos ganhos de frete e valores de produtos intercomercializados, sobretudo com vantagens para o Brasil.
Cidade de Iquique, na República do Chile. Daí a consagração de uma justa aspiração pela conquista do notável mercado chinês e asiático, encurtando distâncias terrestres e marítmas em mais de oito mil quilômetros, com significativos ganhos de frete e valores de produtos intercomercializados, sobretudo com vantagens para o Brasil.
Esse foi o objetivo que, por minha iniciativa, a Comissão
de Serviços de Infraestrutura do Senado da República realizou no último dia 06
de agosto, audiência pública, partindo de uma ideia original do entusiasmo de
dois homens públicos. Pelo Brasil, o prefeito de Porto Murtinho, Heitor Mirando
dos Santos, e o senhor Jorge Soria Quiroga, prefeito de Iquique, no Chile.
O resultado foi auspicioso pela conjugação de interesses
consagrados pela presença de autoridades do governo brasileiro, chileno,
paraguaio, que selaram compromisso de “dar urgência” ao propósito de
implantação dessa rodovia bioceânica que, inclusive, já tem bases assentadas
entre os governos brasileiro e paraguaio para a construção de uma ponte sobre o
rio Paraguai que ligará Porto Murtinho a Camelo Paralta, em terra Guarani, cujo
contrato de intenções deverá ser firmado pelos dois países possivelmente em
outubro e que poderá ter início das obras em dois anos. Esse é o mais
significativo obstáculo da natureza que deverá ser suplantado. Outros existem,
mas tanto em território brasileiro, quanto como nos demais países, inclusive a
ultrapassagem da Cordilheira dos Andes, podem ser considerados como de fácil
solução pela engenharia.
Posso afirmar, não pelo entusiasmo que a rota bioceânica
Atlântico-Pacífico me empolga, que deste sonho antevejo no horizonte acenar o
clarão da realidade.
*Ruben Figueiró é senador e presidente de honra do
PSDB-MS
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