quinta-feira, 29 de maio de 2014

Artigo: A síndrome do medo

*Ruben Figueiró

Qual é o seu maior medo? Ser assaltado, não receber socorro médico, ficar desempregado? Segundo o dicionário Aurélio medo é “um sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça”. Todo ser humano tem infinitos medos. Valer-se dessa fragilidade como estratégia político-eleitoral em pleno século XXI é uma maneira retrógrada e ultrapassada de convencimento. Esse tipo de marketing não tem reflexo na opinião pública dos dias atuais. Chamo isso de síndrome do medo.

Pois fiquei extremamente satisfeito com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de acatar a representação do PSDB e suspender a propaganda do PT veiculada em rádio e televisão na qual o medo era o personagem principal.

A alusão à gestão do PSDB na presidência da República ao citar os “fantasmas do passado” era tão clara, falsa e ofensiva, que justificou a liminar do TSE.

Difundir a política do medo é um recurso emocional antigo e já foi muito usado por diversos partidos em disputas presidenciais em todo o mundo. Lembro-me da campanha do partido Republicano na Era Bush, quando se recordava os temores do 11 de setembro.

Estrategistas de campanhas eleitorais dizem que há duas maneiras de mexer com as emoções dos eleitores: o medo e a esperança. Pelo meu lado, que vivi outros tempos, em que campanha eleitoral era acima de tudo disputa de ideias e propostas, sempre acreditei que a melhor maneira de falar ao eleitor é utilizar o recurso da verdade.

Um partido responsável deve apontar erros, apresentar alternativas, mostrar seu plano de trabalho para garantir avanços necessários para promover o crescimento econômico do País, e, assim, mostrar como pode reduzir as desigualdades sociais, controlar a inflação e promover investimentos em infraestrutura para garantir o progresso da Nação.

A função de uma campanha eleitoral não é mistificar, mentir, assustar e promover a discórdia social, açulando o ódio entre as pessoas. Ao contrário: é fortalecer a democracia por meio da divergência de ideias e de propostas em relação ao País. Neste aspecto, a boa campanha é aquela que reafirma compromissos com a Constituição, enaltece os valores éticos e morais e defende a transparência no uso dos recursos públicos.

O PT foi muito criticado por ter veiculando uma propaganda falando dos “fantasmas do passado” que, paradoxalmente, estão cada vez mais presentes no dia a dia deste governo. Ficou evidente a tentativa de enganar e criar uma ideia falsa sobre a história recente do Brasil. Por essa razão, o TSE considerou condenável em todos os sentidos a campanha do medo.

Como afirmou recentemente o ex-presidente Fernando Henrique o “passado” é o governo do PT que está há 12 anos no Poder. Milhares de jovens desconhecem a luta contra a inflação e a estagnação econômica dos anos 70 e 80. Eles conhecem apenas um passado: aquele que se aproveitou das conquistas do Plano Real, da estabilidade econômica, do controle imposto pela lei de responsabilidade fiscal e, posteriormente, do bom momento vivido pela economia mundial, no período de 2002 a 2008.  

Mas os brasileiros estão percebendo as contradições elementares do quadro social. Os gastos imensos em obras de caráter duvidoso; a corrupção corroendo de maneira acintosa todas as instituições; a dramática desigualdade regional; a carga tributária escandalosa; os juros insuportáveis; os conflitos nas cidades e no campo; a carestia dos alimentos; enfim, todas essas mazelas impulsionam o desejo de mudança.

Não estamos mais preocupados com o passado e nem tememos o futuro – ele poderá ser muito melhor. Estamos com medo é do presente: não sabemos até onde vai o desespero daqueles que perderam o rumo da história e o que poderão fazer diante da perspectiva da perda do poder.

*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB/MS