terça-feira, 11 de março de 2014

Artigo: Sem visão de futuro

*Ruben Figueiró

Causa-me perplexidade a falta de visão de futuro do governo federal. Estamos correndo riscos de perder uma vantagem energética em decorrências de políticas de curto prazo. Explico:
 
Estudos mostram que o etanol brasileiro poderá ser o combustível do futuro. Em 2009, a Agência Ambiental dos Estados Unidos divulgou parecer comprovando que o uso do etanol de cana como substituto de gasolina permitiria uma redução de 44% nas emissões de gases estufa. Com milho, cairia apenas para 16%.

Mesmo assim, o governo brasileiro decidiu importar milhões de litros de álcool anidro (subproduto do milho) dos Estados Unidos e para estimular ainda mais a importação dessa comoditie, desonerou de impostos (PIS e Cofins) as compras de etanol do exterior.

A minha estranheza vem do fato de o setor sucroalcooleiro movimentar aproximadamente 2% do PIB nacional e 12% do PIB da agricultura no Brasil, empregar cerca de 4,5 milhões trabalhadores, e, mesmo assim,  com números superlativos, o setor viver problemas permanentes.

O Brasil criou o Proálcool há mais de 40 anos e até hoje não estabeleceu uma política consolidada que fosse pautada pelo planejamento estratégico eficiente.
 
Cerca de 60% dos veículos brasileiros são flex. Em 2020 eles serão quase 90%. Está claro que se houver bons preços na bomba os consumidores poderão passar a optar pelo etanol, mas isso será difícil de acontecer por causa da política errática do governo que está atado à camisa-de-força do uso de combustíveis fósseis altamente poluidores. E assim estamos negligenciando o fortalecimento de uma matriz energética ambientalmente vantajosa.

Para que o nosso etanol que vem da cana-de-açúcar seja realmente o combustível do futuro teríamos de desenvolver políticas bem formuladas de fortalecimento do setor. Caso contrário, a importação do etanol americano derivado do milho poderá se consolidar e dominar paulatinamente o mercado.

O produtor vê o preço de seu produto esmagado, perdendo competitividade, fazendo-o optar pela produção cada vez maior de açúcar por causas dos preços internacionais. Assim, promove uma brutal redução na oferta, fazendo com que os custos aumentem, desestimulando a produção, gerando uma cadeia de prejuízo às usinas, que são obrigadas a fechar ou se endividarem estratosfericamente.

O projeto de criar uma matriz energética de biocombustíveis vai deixando de ser prioritário à medida que o governo decidiu apostar suas fichas nas descobertas de petróleo do pré-sal, deixando assim o etanol em segundo plano. Esse é um grande erro.
 

*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS

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