quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Artigo: Casas de tolerância

Ruben Figueiró

A epígrafe não se refere àquelas de meretrício, de motel, de lupanar, de puteiro, não! Estas, por mais que cause espécie ao nosso pundonor,  pelos motivos que em si encerram, estão no seu habitat moral.

As que desejo me referir ofendem princípios éticos de fidelidade e lealdade, princípios imutáveis que devem constituir-se a honra de fazer política e pretender exercer em múnus público.

Confesso que constitui meu patrimônio há mais de 60 anos de militância político-partidária a fidelidade a conceitos doutrinários que me transmitiram duas pessoas sempre saudosas: meu pai, referenciado como Gury Marques, e meu tio e padrinho, Martinho Marques. Deles auri patamares de ação politica e, nesta fase outonal de minha vida, prestes a encerrar uma intensa atividade pública permeada por mandatos legislativos, dignificantes presenças no poder executivo e na Corte de Contas ( lá se vão nelas, quarenta anos e “pico”), acreditem caros (as) leitores, que me causam arrepios aos assistir neste início de campanha eleitoral (temo o pior daqui pra frente ) a corrida por acertos entre candidatos de diferentes legendas,  onde não há o menor senso de responsabilidade partidária, num espúrio processo de troca –troca de prestigio e apoio, todos a cata de uma almejada eleição. Tenho dó dos eleitores.

O escuso fenômeno é de extensão nacional E ainda há pouco comprovei ouvindo colegas senadores. A desmoralização que estão transformando as legendas partidárias, incapazes de frear esse surto de mercantilização do voto, tolerante a quebra das boas normas de fidelidade por candidatos às suas legendas, faria corar de inveja aqueles dos tempos bíblicos de Sodoma e Gomorra.

Fui constituinte de nossa Carta Magna de 1988. À época fui daqueles que se filiou a corrente do senador Afonso Arinos, notável constitucionalista, pelo voto distrital puro como suporte de um regime parlamentarista que sempre admirei, porque nele sempre há a presença da vontade soberana do povo.

Se nela vingasse, a eleição distrital mesmo no vigente sistema presidencialista, onde diferente daquele impera a vontade incontrastável da figura presidencial. Por consequência natural ter-se-ia parlamentares com vinculação estrita às causas da população, compromissos inarredáveis com os postulados de seu partido e jamais ocorreria essa babilônia de interesses difusos.

Infelizmente o que se vê, sente e causa repugnância nesta campanha eleitoral é uma onda tsunâmica do salve-se quem puder. É quase uma pajelança para aqueles que tem estomago a refeições indigestas num refeitório de ingredientes azedos de todos os tipos.

*Senador do PSDB/MS

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